quarta-feira, 29 de outubro de 2008

7ª edição à venda!!!

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sábado, 25 de outubro de 2008

Capa da 7ª edição!


(clique na imagem para ampliá-la)

"Saiu inspirando fortemente o ar fresco da manhã. Cumprimentou o vizinho da frente, que também saía para o trabalho, com um aceno de cabeça e um 'bom dia' vigoroso. Desligou o alarme do carro com um aperto no botão do controle acoplado à chave, abriu a porta e ligou o rádio. Deu a ré e saiu calmamente pela rua, aproveitando cada momento, pensando na casa e na família que acabara de deixar para trás. Sua vida era maravilhosa."


Borkman vive a vida dos sonhos:
tem a esposa perfeita, os filhos
perfeitos, a casa perfeita, o emprego
perfeito... Mas algo está errado,
terrivelmente errado.

(extraído da contracapa - edição 7)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

**O Grande Dia de Krentz - CEBolso nº 02

Aqui se encerra o conteúdo da CEBolso nº 02 com um pequeno conto medieval de minha autoria:

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O Grande Dia de Krentz
Ricardo Santos

Ontem ele me disse que seria algo grandioso. Como de costume, sua barba branca tremia enquanto sua boca abria e fechava para expelir as palavras proferidas com tanto ardor. Eu pude sentir, enquanto ouvia, a raiva que permeava suas falas. Eu pude sentir o desejo de vingança que exalava em seu bafo podre de hidromel azedo. Prenunciava as mortes com tanta alegria que não parecia ser um homem que outrora dedicara-se inteiramente a Deus. Se por um lado estava tão contente que não conseguia conter-se, e por isso precisava da ajuda do álcool para digerir suas emoções, eu tremia de medo, pois o dia seguinte seria o dia de minha prova, o dia em que todos saberiam se eu era digno de ostentar o título que conquistara anos atrás, quando a ameaça fora destruída pela lâmina de minha espada.

Assim que o dia raiou hoje, a primeira coisa que fiz foi tomar o leite fresco que Imelda acabara de tirar de nossa vaca, tão magra e desnutrida que pude sentir o leite desencorpado descendo na garganta feito água. Depois fui ao nosso pequeno santuário rezar aos deuses para que nos dessem forças nesse dia tão sombrio.

E agora aqui estou, a caminho do campo de batalha, longe de todos os outros soldados, sem coragem de abrir a boca para dizer uma palavra de consolo aos mais jovens, que vejo me olharem curiosos e admirados, como se minha presença fosse garantia de vitória certa. O peso nas minhas costas é imenso. Tantas vidas esvair-se-ão hoje, e minha vontade é de poder salvar todas, mas sei que as baixas estão inexoravelmente ligadas às guerras. É a lei da natureza.

-X-

O suor escorre de meus cabelos trançados. Eu torço para que ele não atinja meus olhos e me cegue, enquanto giro a espada entre meus inimigos, dilacerando seus corpos, banhando o campo de sangue. Meus machucados são irrelevantes. Tenho que continuar matando, sem parar. Uma dúzia deles tenta me acertar enquanto manejo a incansável lâmina. Os corpos tombam, eu continuo. Sinto o peso de muitos olhares sobre mim. Quando grito, minha força parece dobrar, fazendo meus inimigos recuarem de medo, como se minha voz pudesse arrebatá-los, jogá-los para longe. Meus braços com as veias saltadas cansam-se, mas não param.

-X-

Assim que sento no chão, ao lado de tantos corpos, finalmente vejo o que me fizeram. Vejo um corte gigantesco em minha perna, vejo minha barriga com linhas de sangue que se esvaem de buracos de estocadas rápidas e grotescas.

Vejo logo que não tenho muito tempo. Os garotos olham-me com cara de espanto. Imelda vem correndo de longe, minha vista embaça, parece que ela nunca vai chegar. Eu fecho os olhos por um instante, pensando no alívio de ter feito o que queria. Ganhamos a guerra. Abro os olhos. Imelda chega, chorando, me abraça, deita minha cabeça sobre seu colo. No mar de sangue que nos envolta. É aqui mesmo que me vou. Sobre os meus troféus, sobre os espólios de guerra. Sobre a grama vermelha. Sobre os campos dos deuses. Sob os deuses. Me recebam.


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Em breve: a capa da 7ª edição!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

**Lobo - CEBolso nº 02

Continuando a postagem de contos da 2ª edição da CEBolso, aqui vai o segundo:

Lobo
Alvaro Souza

O whisky puro flamejava garganta abaixo. Espremia por um instante os olhos vermelhos e ardidos na hora de engolir. Ao abri-los novamente, tomava consciência de si e da realidade ao seu redor. Ainda não era o bastante. Ainda podia sentir.

- Me dá mais um – pedia, a voz um rosnado arrastado que já traía a embriaguez.

- Ei, Thom, será que você já não bebeu demais? – o gordo dono do bar tentava, como de costume, encerrar a bebedeira do velho enquanto ele ainda era capaz de caminhar para casa.

- Hã?!... – o homem não entendeu de imediato, parecia surpreso e confuso por falarem com ele - ...não enche não, Paulão, serve logo e não reclama, que é a minha pensão que te sustenta! – esbravejou, depois de uma pausa para se orientar. O velho minguado e raquítico, uma figura inofensiva, agigantava-se sob o efeito da bebida – Põe logo essa merda dessa dose!

Querendo que ele parasse de beber! Um sujeitinho que nunca teve a pólvora negra ou o sangue viscoso nas mãos, que ficou gordo na paz proporcionada por homens de verdade como ele! – ...querendo que eu pare de beber... – pôde-se ouvi-lo balbuciar. Virou o copo tão logo o barman terminou de enchê-lo. Seus cabelos grisalhos e desgrenhados eram sebosos, como se não tomasse banho há dias; a barba acinzentada por fazer dava ao rosto magro e ossudo um aspecto ainda mais macilento. Nunca fora muito alto, e agora parecia ter encolhido, curvado e artrítico. Sentado lá, ganindo resmungos para si mesmo, babando ao virar um copo atrás do outro, estremecendo violentamente após cada golada, Thom era a imagem de um cão em agonia ensandecida.

Não tinha família nem amigos na cidade. Sabiam que ele era um veterano do Exército Integrado, mas pouco mais do que isso. Normalmente, tão logo ficava bêbado, iniciava suas bravatas, histórias confusas e embaralhadas que contava no balcão, para ninguém em particular, das quais todos riam, os devaneios de um velho louco. Pessoa alguma acreditava que ele tivesse feito aquelas coisas. Não davam nada por ele.

Na última semana, no entanto, seu comportamento mudara; andava pelas ruas como um vira-lata neurótico, sobressaltava-se com qualquer barulho, assustava-se quando alguém se aproximava, como se estivesse num transe, num mundo só seu, do qual a realidade vinha tirá-lo momentaneamente, um mundo assombrado e angustiante. A bebida não tinha o mesmo efeito, a embriaguez não vinha mais expansiva e relaxante. Pelo contrário, bebia quieto num canto do balcão, murmurando consigo mesmo e tremendo, o álcool no qual tentava refugiar-se parecendo confiná-lo cada vez mais à companhia dos demônios dos quais queria escapar.

- ENTÃO ATIRA VOCÊ!! – a explosão repentina assustou a meia dúzia de outras pessoas espalhadas pelo bar. Imediatamente olhou à sua volta, surpreendido pela presença delas ali; varreu o recinto com o olhar, como se o observasse pela primeira vez, até que pousou os olhos esbugalhados no copo vazio em sua mão, e já ia estendê-lo para Paulão, quando este perdeu a paciência:

- Já chega!!! Você não vai beber nem mais uma gota, seu velho desgraçado!!! Perturbando o meu bar!!! Vai-te embora, bêbado nojento!!! – e ia levando a garrafa, que estava próxima de onde Thom sentava, de volta para a prateleira.

- NÃO!! EU QUERO MAIS!!! – o velho lançou-se à frente, tentando agarrar o braço gordo por cima do balcão, meio que atirando-se por sobre o móvel – VOCÊ NÃO É NINGUÉM PRA ME IMPEDIR SEU LIXO PARASITA DA RECONSTRUÇÃO!!!! – lutava furiosamente com o homem muitas vezes maior e mais pesado, a saliva voando com os rosnados ameaçadores, batendo os dentes como que ensaiando uma mordida. Um freguês aproximou-se por trás, segurando-o pelo braço, e foi repelido por uma cotovelada no rosto, um acidente no meio da confusão, todos pensaram na hora, mas ainda assim um golpe surpreendentemente forte e que lhe partiu o nariz, lançando-o de bunda ao chão.

O braço recém-libertado tomou a garrafa dos dedos robustos do outro lado do balcão, um movimento rápido e vigoroso, que deixou perplexo o dono do bar. Thom afastou-se de um salto do balcão, aprumou as costas contra a parede, a alguns metros da porta, todo ameaça, preparado para se defender de um segundo ataque, uma fera acuada pronta para a orgia de sangue da luta até a morte. Um taco de alumínio surgiu por detrás do balcão, nas mãos do gigante obeso, que arfava. Os demais clientes, em pé, formavam um semicírculo hesitante, receoso de avançar sobre o velho, não mais tão inofensivo assim.

- Eu já chamei a polícia! – a voz do rapaz vinha alta e desafinada dos fundos do bar; o filho de Paulão, que limpava os banheiros quando a confusão começou, trazia um celular, que agitava na mão a alguns centímetros do rosto. Todos pareceram parar por um instante.

- Pega essa merda dessa garrafa, enfia tua pensão no cú e vai logo embora daqui!!! – berrou seu pai na direção do velho, que rosnava eriçado, dentes à mostra – desaparece e nunca mais volta, seu vagabundo! Se achando tão melhor que os outros porque descascava batata e limpava privada na guerra!!! VAI!!!

BLAM!!! – o taco golpeou violentamente o banco redondo em que Thom estivera sentado, e os homens assistindo puderam ver até a alma do velho estremecer.

- AAAARRRRGGHHHHH – o urro parecia vindo de outra dimensão, reverberou por todo o estabelecimento, violento, desesperado, todos os presentes encolhendo-se diante dele. Os olhos esbugalhados eram aterrorizantes, os dentes amarelados, presas ameaçadoras. Com a garrafa firmemente abraçada junto ao peito, sob o braço direito, tateou com a mão esquerda, enquanto recuava lentamente de costas, até encontrar a maçaneta. Abriu a porta e saiu rapidamente para a calçada, não dando as costas em nenhum momento para os inimigos, que o observavam boquiabertos, sem ação.

Lá fora, o sol do meio da tarde apunhalou seus olhos com uma dor lancinante. A garrafa ainda apertada sob o braço, caminhou dois ou três passos rua abaixo, afastando-se da porta do bar em sentido contrário ao dos carros que passavam. Parou, sem rumo, não sabia aonde ir, não tinha nem certeza quanto ao que acabara de acontecer. Deu meia-volta, mas não saiu do lugar; olhou para o outro lado da rua, mas não reconheceu nada de familiar na cidade em que morava havia anos. A confusão mental intensificara-se com a exaltação de momentos atrás. Apertou os olhos e chacoalhou a cabeça, tentando clareá-la.

- Ei, senhor, fique parado!! – o grito trouxe-o de volta. A viatura acabara de encostar bem atrás de dois carros estacionados junto ao meio-fio, os dois policiais caminhavam cautelosamente em sua direção. Exasperado pela interpelação áspera do guarda, por um instante pareceu apavorado. As mãos tremiam, os olhos piscavam loucamente enquanto olhava, aturdido, ao seu redor. Os homens aproximavam-se devagar. A arma na cintura. A farda azul. Aquela farda não era a sua. Feições ameaçadoras.

- Nós só vamos levá-lo daqui, e o senhor não vai dar trabalho, certo?! – as armas. A farda. Que não era a sua.

O desespero e a agitação deram lugar a uma serenidade estática, como se uma chave em seu cérebro tivesse fechado um circuito há muito em desuso. Tolos. E um par de soldadinhos de merda desses, recém saídos das fraldas, lá seria capaz de neutralizá-lo! Os melhores do mundo já tentaram, teve vontade de dizer, os melhores do mundo! E sobrevivera a todos eles! Todos! Esses bostinhas achavam que o tinham encurralado? Desarmado e sozinho no meio da rua? Deixaria os desgraçadozinhos tentarem!

A coluna ereta parecia ter recobrado a estatura de outrora. Cabeça erguida, respiração compassada, a mão esquerda baixada ao lado do corpo, a direita segurando firme a garrafa. O olhar sinistro oscilava de um soldado para o outro, encarando-os nos olhos, o modo correto de se fazer. Não era mais o animal encurralado em desespero, era o caçador ardiloso, prestes a se abater sobre a presa indefesa e em desvantagem. Toda essa repentina frieza produzia o efeito esperado de intimidar aqueles rapazes, que não compreendiam como um velho bêbado podia fazer o suor gelado brotar de seus poros daquele jeito. Confusão já não mais existia em sua mente, que operava como a máquina perfeitamente azeitada, que o treinamento projetou e a violência teve anos para aperfeiçoar.

A calçada era razoavelmente larga, mas os três veículos enfileirados em frente ao bar transformavam-na em um corredor perfeito para se inverter a vantagem numérica de seus oponentes. Estava alinhado com o pára-choque dianteiro do primeiro carro da fila; o policial que gritara com ele aproximava-se pelo centro da calçada, e já passava da roda traseira do carro do meio. Seu colega seguira alguns metros atrás, parando na linha do pára-choque dianteiro da viatura, só que mais à esquerda de Thom, rente à parede de um edifício. Parecia ter escolhido aquela posição para dar cobertura ao parceiro; sua mão abriu lentamente o fecho do coldre e puxou metade da pistola para fora, mantendo-a naquela posição. Faça o melhor que puder, filho. Aquilo era o máximo que podiam mandar atrás dele?

As jaquetas estufadas denunciavam os coletes à prova de balas. Bom. Como o lobo que prepara a emboscada, Thom recuou sutilmente para a esquerda, e o homem da frente correspondeu da forma esperada, desviando-se um pouco para a sua direita e continuando a se aproximar, seguro de que dera ao companheiro uma linha de tiro limpa. O velho permanecia estático, pareceria resignado. Esperar o momento certo, calcular a distância com precisão, tudo isso fazia parte de suas funções mais primárias. O guarda estava bem próximo agora, percorria os últimos metros; levou a mão direita à algema, pendurada no cinto ao lado da arma, sobre a perna direita.

E fechou-se a armadilha, a alcatéia de um homem só cravando os dentes na garganta de sua vítima, aguardando o jorro morno da vida que se esvairia em vermelho. Thom soltou a garrafa, dando um passo impetuoso com o pé direito em diagonal, rápido como um raio, na direção do inimigo. Antes de o vidro espatifar-se no chão, seus braços, velozes como o bote de uma serpente, atacaram. Os dedos da mão direita golpearam a traquéia do sujeito, deixando-o imediatamente fora de combate; a mão esquerda agarrou o braço direito que pegava a algema e, no tempo que o segundo policial levou para terminar de sacar a arma e puxar o gatilho, já havia recuado trazendo o corpo inerte para junto de si, usando-o como escudo, girando o próprio corpo de modo a encaixar-se no do oficial e escorá-lo, como se este o encoxasse por trás, bem no momento do choque da bala contra o kevlar sob a jaqueta. Ato contínuo, sem interromper seu movimento giratório, levou a mão direita à perna do homem às suas costas, puxando e destravando sua pistola a um só movimento; completou o giro, ajoelhando-se e atirando contra o soldado remanescente antes do mesmo ter tempo de puxar o gatilho de novo, enquanto o primeiro despencava bem ao seu lado. Dois disparos precisos, da maneira como fora ensinado a enfrentar homens de colete. Um na cabeça. Um na virilha.

Ficou de pé. A respiração, não mais tão controlada assim; as mãos, já começando a tremer novamente; os olhos piscando outra vez, a intervalos cada vez menores. Realidade e alucinação mesclavam-se em sua mente, numa dança furiosa que o fez apertar a cabeça com força, usando as duas mãos, a arma ainda na direita. Ao seu redor, o pânico da matança já dava seus clássicos sinais, arrebatando instantaneamente todos que nunca precisaram praticá-la.

Como se arrancado de um devaneio, Thom correu, passando pelo policial baleado e apanhando sua arma, imprimindo a máxima velocidade que suas pernas velhas agüentavam, fugindo desesperadamente da violência que, por tantos anos reprimida, rompera o lacre e vinha uivando inundar sua vida novamente.

domingo, 12 de outubro de 2008

CE em destaque na RDM e no Circuito Mato Grosso!

Vira e mexe conseguimos destaque em alguns veículos de mídia locais, o que é sempre gratificante. Dessa vez, a Contos Extraordinários marcou presença na revista RDM, em sua edição comemorativa de 10 anos (setembro).



Numa matéria sobre a produção literária em Mato Grosso, focada principalmente nas editoras regionais e na luta pela publicação e circulação de obras da nossa terra, o colega Marinaldo Custódio, autor da reportagem, citou algumas das publicações do mercado "alternativo" daqui, incluindo a nossa. Não bastasse a menção honrosa, colocando a CE lado a lado com a Revista Sina de Mário Hashimoto e Estação Leitura de Wander Antunes, na última página da matéria há ainda uma foto prestigiando nossos quatro primeiros números, com uma legenda pra lá de honrosa: "A revista Contos Extraordinários: voz do mercado alternativo"

Confira aqui embaixo (para os que quiserem conferir na própria publicação, esta é a página 150 - clique nas imagens para ampliá-las):





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Também ganhamos destaque, pela segunda vez, na coluna Inclusão Literária, de Clóvis Matos, publicada semanalmente no jornal CircuitoMatoGrosso (esta refere-se à última edição, de 10-16 de outubro), que fez um painel com as capas das 6 edições, completando-o com o pequeno conto "As Teias se Fecham", que já foi publicado na revista Espectador e postado AQUI no blog na íntegra. Confira:







Valeu Marinaldo e Clóvis pelo apoio!

E aí, já adquiriu a 6ª edição?

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

**Interlúdio - CEBolso nº 02

A 2ª edição da CEBolso (que você encontra junto da 6ª edição da Contos Extraordinários) traz três contos, dois deles bem pequenos. Postarei todos aqui. A história a seguir é a que abre a (mini) revista:

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Interlúdio
Cristiano Imada

O rádio-relógio pedia silêncio incansavelmente enquanto encarava a escuridão com seu olhar vermelho-sangue de 03:47. Sonolenta, Daniele esticou seu braço direito e desligou o aparelho sem sair da cama. Em seguida, rolou para cima de Alexandre, que roncava baixinho. Repousou a cabeça sobre seu ombro, inspirou profundamente o perfume amadeirado e deslizou as mãos pelo corpo quente e esbelto do companheiro, deliciando-se com carda curva esculpida na carne. Então encaixou Alexandre em si e apertou seu corpo contra o dele. Sentiu-o enrijecer e pulsar dentro de suas entranhas. Sua expressão suavizou, irradiando tranqüilidade.

Deitada sobre ele, Daniele sentia como se estivesse flutuando sobre o mar, embalada pela onda-respiração. O ronco começou a soar cada vez mais como o som das brumas sublimando em contato com a areia, até que ela adormeceu novamente.

-X-

Uma coruja abriu as asas e saltou nas trevas em busca de sua presa. Um peixe encarou seu reflexo na superfície e nadou com todas as suas forças para alcançá-lo. Quando estava prestes a tocar sua imagem, ela desvaneceu-se, e o pequeno peixe mergulhou e rodopiou caoticamente em um mundo difuso, bizarro e sufocante. A gaivota esforçava-se, embora já cansada, para voar cada vez mais longe: apostava uma corrida com a grande fruta de fogo, e esta já havia alcançado o limiar muitas vezes mais. O cachorro uivava uma serenata para o olho prateado, e este paquerava-o de volta. Nua, Daniele dançava, saltava, voava, atravessava nuvens e ilusões. Por fim, aterrissou suavemente em uma clareira, na qual se encontrava Alexandre.

Ele não a reconheceu, e, atônito com a beleza e suavidade da dama, indagou:

- Você é um sonho?

- Não, e você também não é o meu.

- Você me parece familiar, como se já houvesse visto você em um sonho...

- Sonhos são a síntese da loucura reprimida...

Após respondê-lo, Daniele adentrou a mata, cruzando árvores e animais noturnos. Quando cansou de caminhar, deitou-se sobre a relva e ficou a ronronar e absorver, em cada centímetro de seu corpo, o toque sedoso e úmido da grama.

Então o chão começou a tremer, e, em seguida, a girar. Daniele agarrou uma raiz, porém esta desvencilhou-se de sua mão. Ela caiu no céu negro, rumo à miríade de estrelas. Não sentiu medo, não gritou, apenas despencou, solitária.

-X-

Daniele acordou novamente. Os suaves e bruxuleantes raios dourados indicavam o início da alvorada. Mais uma vez ela fora deixada sozinha na cama de um motel por alguém que conhecera na noite anterior. Afundou sua face no travesseiro, esperando que, junto com o sonho, as lembranças desse interlúdio se perdessem em sua memória. Enfim, suspirou e levantou. Tinha de ir trabalhar: era segunda-feira.


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E aí? O que achou? Comente!

sábado, 4 de outubro de 2008

6ª edição à venda e novas alterações nos PVs

Continuando o processo de afunilamento dos pontos de venda, três deles encerram sua participação no projeto:

- Banca Ler & Lazer (na frente do Hospital Santa Helena)

- Banca dos Concursos (praça da Prefeitura)

- Banca Oliveira (Av. Filinto Müller)

No mais, os pontos de venda restantes estão atualizados com a nova edição. Saiba quais são eles clicando AQUI.

Corra para comprar a sua!

Em breve: os contos da CEBolso nº 2!