Samuel chegou ao fundo do poço;
viver tornou-se um fardo. Após a
mais intensa discussão de sua vida,
decide realizar seu maior sonho.
Nem que tenha que morrer para isso.
(extraído da contracapa - edição 6)
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Ele sente a ameaça no ar. É como um animal encurralado, que fareja o perigo aproximando-se, e teme que esse será o ultimo momento de sua vida miserável. Não que ele vá se deixar levar tão facilmente. Afinal, todos nós lutamos pela sobrevivência; é um instinto animal que é nosso por direito, herança de dias mais selvagens.
A porta abre e dá espaço à corrente de vento que ansiava pela liberdade. Com o vento vem o homem. Com o homem vem a arma. Com a arma vem a bala. Com a bala vem o ultimo suspiro, enquanto ela penetra nos cantos mais recônditos de seu cérebro, furando aquilo que milésimos de segundos atrás foi capaz de odiar, amar e arquitetar o que quer que fosse que seu espírito insaciável planejasse. A ambição se dobra, a vontade se esvai, e a natureza dá fim ao ciclo de mais um de seus filhos, enquanto o corpo cai mole no chão, esparramando os braços sobre o carpete agora manchado de vermelho.
O segundo homem limpa sua arma, com um pequeno lenço branco. Depois a joga por cima do corpo já imóvel a sua frente e sai conforme o esperado, conforme sua vida lhe ensinou a agir em qualquer situação: seguro de si.
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Por cima da bancada, ele observa o matador afastando-se, regojizando-se em alegria enquanto vê que tudo que previra ocorre como planejado. Ao pensar nas conseqüências que seu plano acarretará, pelo menos em relação aos seus benefícios pessoais, ele sente uma alegria imensa, parecendo não importar-se com o fato de que para que sua alegria concretize-se, muitos terão que morrer e muitos outros chorarão perdas em vão.